Quando a Rua Enche: Conheça a história em quadrinhos da UFSM que aborda ansiedade climática em Santa Maria

Foto: Mariana Rodrigues (UFSM)

Após um ano das enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul em 2024, a Agência de Notícias da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) lançou uma reportagem em um formato diferente e criativo: uma história em quadrinhos (HQ) que mergulha nas consequências emocionais geradas pela tragédia na população santa-mariense.

 
Intitulada "Quando a rua enche", a narrativa acompanha a realidade de três moradores do Bairro Urlândia, na região sul de Santa Maria: Antão Renato da Silva Ramos, 69 anos; Eliane Aparecida Corrêa Braga, 42, e Dener Brum Abadde, 39. Eles vivem às margens do Arroio Cadena, que tem origem no Rio Vacacaí. Por meio das ilustrações, a iniciativa evidencia a preocupação dos três em relação ao transbordo do arroio, que a cada chuva traz à tona os traumas deixados.

 
A ideia de criar a HQ foi do ilustrador e acadêmico de jornalismo da UFSM Pedro Moro, 21. Ele começou a desenhar ainda na infância e, em meio a projetos desenvolvidos na graduação, descobriu que poderia unir um antigo hobby à profissão que havia escolhido. O jovem deu início ao projeto em abril deste ano, com apurações e entrevistas realizadas, com o auxílio da também acadêmica de Jornalismo Jessica Mocellin - responsável por fotografar as cenas.

Ilustrador durante o processo de construção da HQFoto: Vitória Sarturi


 
A partir dos registros fotográficos, realizados em 17 de abril deste ano, Moro começou a traçar os primeiros passos do que antes era apenas uma folha em branco. Conforme o autor, as ilustrações foram realizadas primeiro no papel e, posteriormente, digitalizadas para o computador - sem uso de técnicas específicas. O material, publicado no site e nas redes sociais da UFSM, no dia 13 de maio, demandou aproximadamente um mês para ser concluído.


Ansiedade climática
Durante as inundações registradas no ano passado, cerca de 2,7 milhões de pessoas foram afetadas diretamente, incluindo 200 mil habitantes que ficaram desalojados ou desabrigados. Ao todo, a tragédia deixou 184 vítimas fatais, sendo cinco santa-marienses. Há um ano, os gaúchos estão divididos entre a vontade de reconstruir suas vidas e o medo de uma nova catástrofe. Esse receio, que faz os três personagens da HQ perderem o sono hoje em dia, é o que caracteriza a chamada "ansiedade climática" - efeito psicológico, cada vez mais, presente em comunidades afetadas por desastres ambientais. Para entender mais sobre esta questão, Moro conversou com a psicóloga e especialista em catástrofes e situações de emergência Melissa Couto.

- Ela [Melissa] me contou que, pelos relatos desses moradores, o que eles acabaram sofrendo foi um rompimento muito grande dos vínculos. Eles não perderam nenhum ente querido, mas perderam suas casas, tiveram as suas rotinas mudadas e isso também gera um rompimento que causa luto nas pessoas. Porque criamos uma identidade com a nossa casa, sabe? - comenta o ilustrador, sobre os três moradores que inspiraram sua obra.


Relevância
As ilustrações retratam elementos característicos do Bairro Urlândia, como o ambiente do local e a identidade visual dos personagens. Em trechos sem recursos fotográficos, os desenhos foram construídos com base na memória dos moradores e na percepção atenta do autor, em busca da fidelidade aos acontecimentos e à experiência vivida pela comunidade.

 
Segundo o jornalista Maurício Dias, responsável pela edição da HQ, o formato muda a maneira de se estruturar a história.

 
- Os quadrinhos permitem narrar de forma mais lúdica e sintética. É preciso selecionar muito bem o que colocar sem que fique um texto longo. E o texto não pode concorrer com as ilustrações, pois ambas as linguagens são importantes. No entanto, a ludicidade vem muito dos desenhos e a reportagem em quadrinhos traz o mesmo rigor da apuração tradicional, tudo o que está ali realmente ocorreu. Houve, portanto, todo um cuidado para que se fosse fidedigno com a realidade - afirma ele.

 
A fidelidade ao real mencionada pelo editor também é sentida por quem está do outro lado dos desenhos, isto é, o lado dos personagens que dão sentido e vida à história em quadrinhos. Abadde, um dos três moradores entrevistados durante o desenvolvimento do projeto, revelou ter gostado do resultado final.


- Eu achei muito legal e diferente a nossa vida ser contada em quadrinhos, ficou bem fiel à história e às fotos. Gostei muito e ficou bem interessante porque chama atenção, né? E acho que ela vai ajudar os outros a verem melhor o que nós passamos - comenta o morador. 

 

Foto: Jessica Mocellin

 
Para Moro, contar a história com desenhos também permite que o público se aproxime mais dos personagens e crie empatia com a ansiedade climática.


- A reportagem serve para evidenciar que, depois que a enchente passa, depois que essas pessoas voltam para suas casas, elas ainda têm a memória do que aconteceu e ainda se precisa falar sobre isso, precisa que elas cuidem desse sentimento, porque, se não tiver um acolhimento, é um problema muito grande mesmo - conclui o autor.


(Vitória Sarturi) 


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